Câmera Yashica Super - 8mm, usada na gravação dos primeiros filmes do Ecaja |
O cinema acreano tem 40 anos de
história. Alguns de seus precursores como João Batista, mais conhecido como
Teixeirinha do Acre, Antônio Evangelista ou Tonivan, Adalberto Queiroz, entre
outros, formaram o Estúdio Cinematográfico Amador de Jovens Acreanos (Ecaja
Filmes).
Produzir filmes no Acre nunca foi
fácil. Desde o início, nos anos 70, até hoje, a principal dificuldade é
financeira. Conseguir equipamentos, gravar o áudio, montar o filme, para os que
fazem parte dessa história, sempre foi um desafio.
Antônio Evangelista relata que no
início da década de 70, a televisão ainda não tinha chegado ao Acre e o
principal divertimento era o cinema e as novelas radiofônicas na Rádio Difusora
Acreana. Tonivan logo começa a se interessar pelo rádio e depois que seu pai
lhe dá de presente um gravador de rolo, veio a idéia de pegar as revistas
Capricho e interpretar os personagens das histórias.
“Convidei o Teixeirinha, o
Raimundo Ferreira, Ozenira Brito, são os que começaram lá gravando, pegando as
revistas da minha mãe e a gente fazia os personagens. Aí o Teixeirinha teve uma
idéia: que tal escrever uma novela para a Difusora Acreana?”, lembra Tonivan.
Porém, a gravação ficou ruim e
não foi aceita pela emissora, o que desanimou o grupo. Mas logo veio uma nova
proposta de Teixeirinha. “O Teixeirinha chega e diz: eu tenho uma notícia boa,
é possível a gente fazer cinema no Acre. Eu estive pesquisando, na Joalheria
Medeiros tem uma filmadora, e tem os filmes virgens para a gente filmar. Tem
também o projetor para depois botar o som, eu não sei como bota o som, mas eu
tô lendo o livro Jovens Cineastas, lá da biblioteca da Ufac, e tive informações
de como fazer roteiro, como produzir e dá pra gente fazer um filme”.
A partir daí têm início as
produções cinematográficas acreanas. Convidando mais pessoas para participar,
Teixeirinha escreveu o roteiro e dirigiu o primeiro filme, 'Fracassou meu
Casamento', em 1973.
Os filmes eram feitos por meio de
uma câmera super 8mm da marca “Yashica”. Todo o processo de filmagem era feito
de maneira artesanal. Segundo Adalberto Queiroz, cada rolo de filme permitia a
gravação de cerca de três minutos de imagens. Para um filme inteiro, eram
necessários 38 rolos de super-8. Havia dificuldade também na revelação, já que
o material precisava ser enviado a São Paulo, e de lá, para o Canadá, passando mais
de seis meses para ser devolvido.
Depois era preciso montar o
filme. E a montagem era feita unindo cada pedaço de filme, colando com acetona.
Mas ainda havia um problema: a filmadora de bitola super-8 não gravava áudio.
Ainda que todos os atores tenham decorado seus textos, era necessário gravar em
estúdio tanto a voz dos personagens como os vários sons do filme.
“Quando a gente filmava não tinha
som. A gente projetava o filme com o projetor, botava um gravadorzinho, ali
tinha os atores, bacia d’água, ruído de carro, batida de porta, cavalo
correndo. A gente tinha que fazer na contrarregra, e gravar com os atores aqui
tudinho, os sons, na mesma hora. O ator falava no tempo, se tivesse uma porta
batendo, batia, se tivesse uma pisada, fazia as pisadas. Era assim que a gente
gravava os sons dos filmes, dublava. Era muito pesado mas era divertido, dava o
texto pro pessoal decorar, era um microfoninho pra todo mundo, mixuruca pra
caramba”, complementa Adalberto Queiroz.
Muitas pessoas desacreditavam no
projeto dos jovens do Ecaja. “Na época, meus pais, principalmente o meu pai,
ele muito machão, achava que esse negócio de fazer cinema, isso
não tem futuro não, e a minha mãe dizia ‘deixa João, quem sabe um dia isso
aí tem futuro’. E realmente, hoje nós somos lembrados pela imprensa, pelos
estudantes”, afirma emocionado Tonivan.
Entre os filmes produzidos pelo
grupo Ecaja Filmes estão: Fracassou meu casamento, em 1973; Rosinha, a rainha
do sertão, em 1974; A luta em busca do amor, de 1976; Uma realidade em
conflito, em 1979; e Alucinados pelo vício, em 1980.
Censura
Além das dificuldades técnicas,
havia também a censura. Tudo o que era produzido, seja música, cinema, teatro,
devia obrigatoriamente ter o certificado de censura. O primeiro filme do Ecaja,
'Fracassou meu Casamento', foi exibido pela primeira vez numa praça em
Brasileia, em 1973, patrocinado pelo deputado Wildy Viana. Porém, logo depois,
o filme foi apreendido pela Polícia Federal por não ter certificado.
O próximo filme, 'Rosinha, a
rainha do sertão', por conta da censura, foi exibido em escolas, mas com
dificuldades. “Eu me lembro de uma vez ali no Neutel Maia, a gente tava fazendo
a projeção. Nessa época já tinha bastante projetor, e eu tava na projeção
quando chega o Adalberto dizendo: para, para, guarda, tira todo o material, que
a Polícia Federal tá chegando. O pessoal ficava na frente da esquina pra ver
quando a Polícia Federal vinha”, conta Antônio Evangelista.